Pacientes com miopias altas — de 8, 9, 10 ou até mais de 12 graus — costumam ter uma dúvida recorrente: é possível realizar a cirurgia refrativa com segurança?
A resposta é: depende. Tudo gira em torno da estrutura da córnea e das condições individuais de cada olho.
Quando a cirurgia 100% a laser é possível
Para que o paciente com alta miopia possa realizar a cirurgia refrativa 100% a laser (PRK), é fundamental que apresente uma córnea muito boa, ou seja, espessa e forte.
Mas o que significa, na prática, ter uma córnea espessa?
Em casos de miopia elevada, como 10 graus, a espessura ideal deve ser acima de 520 micrômetros.
Essa característica permite que o laser remova uma quantidade suficiente de tecido corneano para corrigir o grau, sem comprometer a segurança ou a estrutura ocular.
No entanto, a espessura sozinha não é suficiente. É indispensável que a córnea também seja forte. Uma córnea grossa, porém fraca, não oferece estabilidade e aumenta o risco de complicações. Portanto, é preciso avaliar espessura e resistência biomecânica em conjunto.
Quando a córnea não é espessa o suficiente
Se o paciente tiver uma córnea forte, mas abaixo de 520 micrômetros, ainda existem alternativas.
Nesses casos, é possível realizar o implante de anel para alta miopia, conhecido como anel HM ou Raiópia.
O anel é implantado sem reduzir a espessura da córnea, e após o procedimento, o grau de miopia é reduzido significativamente. Depois de alguns meses, pode-se complementar o tratamento com o PRK, finalizando a correção visual.
Essa combinação de procedimentos é uma excelente opção para quem tem córnea forte, mas não muito espessa.
A importância da curvatura corneana
Outro fator crucial na análise é a curvatura da córnea.
Durante o tratamento da miopia, ocorre um aplanamento (ou achatamento) da córnea.
Para preservar a qualidade visual e a segurança, a curvatura final deve permanecer acima de 35 dioptrias.
Em termos práticos, um paciente com 10 graus de miopia deve ter curvatura inicial superior a 42 dioptrias.
Isso ocorre porque, para cada grau corrigido, o laser aplainará cerca de 0,7 dioptrias. Assim, mesmo corrigindo grandes graus, mantém-se uma margem segura para a visão.
E quando nada disso é possível?
Até cerca de uma década atrás, pacientes com córneas finas, fracas ou muito planas não tinham alternativas cirúrgicas seguras — restava apenas o uso contínuo de óculos ou lentes de contato.
Mas hoje isso mudou.
Atualmente, existe uma solução eficaz e segura para esses casos: a lente fáquica.
Lente fáquica: uma opção moderna e segura
A lente fáquica é um tipo de lente intraocular implantada sem alterar a córnea do paciente.
Ela permite corrigir miopias entre 6 e 20 graus, mesmo em olhos com córneas finas, fracas ou com diagnóstico de ceratocone leve.
O grande diferencial é que esse procedimento preserva a estrutura natural da córnea e oferece uma excelente qualidade visual, muitas vezes superior à obtida com óculos ou lentes de contato.
Conclusão
Em resumo, a cirurgia refrativa em altas miopias exige uma avaliação criteriosa da espessura, curvatura e resistência da córnea.
Nos casos ideais, o PRK 100% a laser é uma excelente solução.
Quando há limitações anatômicas, o implante de anel associado ao PRK ou o uso da lente fáquica tornam-se alternativas seguras e eficazes.
Cada caso é único e deve ser avaliado individualmente por um oftalmologista especializado em cirurgia refrativa.
O avanço das técnicas atuais permite que, mesmo pacientes com altos graus de miopia, encontrem soluções personalizadas e seguras para alcançar a independência dos óculos.


