Nos últimos anos, surgiram grandes avanços no tratamento da presbiopia — a famosa “vista cansada”, comum a partir dos 40 anos. Um dos mais comentados é o colírio VIS, recentemente aprovado pelo FDA (órgão regulador dos Estados Unidos).
Mas afinal, como ele funciona? Quanto tempo leva para fazer efeito? É seguro? E quando estará disponível no Brasil?
Neste artigo, explico em detalhes o que se sabe até o momento sobre esse colírio e faço uma comparação com outro medicamento semelhante, o Vuity, também indicado para a visão de perto.
O que é o colírio VIS e como ele age
O VIS contém a substância aceclidina na concentração de 1,44%. Seu principal mecanismo de ação é estimular a contração do esfíncter da íris — a parte colorida do olho —, diminuindo o diâmetro da pupila (miose).
Essa redução da pupila melhora a profundidade de foco, facilitando a visão para perto. Em pessoas com olhos claros (azuis ou verdes), essa contração pode deixar a cor dos olhos ainda mais evidente, já que a íris fica mais concentrada visualmente.
Quando o efeito começa e quanto tempo dura
De acordo com os estudos Clarity 1 e Clarity 2, os participantes perceberam melhora na visão para perto cerca de 30 minutos após a aplicação, ou seja, o efeito é rápido.
A duração média observada foi de até 10 horas — aproximadamente 40% dos pacientes mantiveram o benefício por esse período.
A melhora foi significativa: os pacientes ganharam três linhas na tabela de visão para perto, o que representa um aumento notável na nitidez das letras e números em textos próximos.
Posologia e segurança
Até o momento, o uso estudado do colírio é de uma aplicação diária. Não há evidências suficientes que confirmem a segurança ou eficácia de aplicações duas vezes ao dia, já que isso poderia aumentar o risco de efeitos adversos.
Novos estudos deverão avaliar essa possibilidade no futuro, mas, por enquanto, o uso recomendado permanece de uma gota por dia.
Quem pode usar o colírio VIS
O colírio foi desenvolvido especialmente para pessoas que:
- Têm boa visão para longe, mas dificuldade para enxergar de perto;
- Possuem entre 40 e 55 anos;
- Não têm contraindicações ao uso de substâncias que provocam miose.
Quem deve evitar o uso
O uso do VIS não é indicado para:
- Pacientes com alergia a substâncias mióticas (como a pilocarpina);
- Pessoas com descolamento ou rasgadura de retina;
- Pacientes com glaucoma de ângulo estreito;
- Portadores de uveíte ativa (inflamação da íris);
- Usuários de colírios de pilocarpina, pois o VIS potencializa seu efeito.
Por outro lado, quem já realizou cirurgia refrativa (PRK ou LASIK) ou cirurgia de catarata pode usar o colírio normalmente, sem contraindicação.
Possíveis efeitos colaterais
Os estudos clínicos (como o Clarity 3, que avaliou 217 pacientes por seis meses**) mostraram que os efeitos colaterais do VIS foram leves e transitórios.
Os mais comuns foram:
- Irritação ocular (20% dos casos);
- Visão turva temporária (16%);
- Dor de cabeça (13%);
- Vermelhidão ocular (8%).
A visão turva tende a ocorrer com mais frequência à noite, já que a pupila reduzida permite a entrada de menos luz — algo esperado devido ao mecanismo de ação do colírio.
Onde o VIS está disponível e qual o custo
Atualmente, o colírio VIS é comercializado apenas nos Estados Unidos, mediante prescrição médica.
No Brasil, ainda não há previsão de chegada, pois o laboratório responsável ainda não protocolou o pedido de aprovação junto à Anvisa.
O preço nos EUA gira em torno de US$ 79 por mês, ou US$ 198 para o tratamento trimestral, em um sistema de assinatura. Convertendo, isso equivale a aproximadamente R$ 435 por mês ou R$ 1.090 a cada três meses (valores sujeitos a variação cambial e impostos, que podem encarecer o produto no Brasil).
Comparativo entre VIS e Vuity
O Vuity, lançado anteriormente, também é indicado para a presbiopia, mas sua composição é diferente.
Enquanto o VIS contém aceclidina, o Vuity utiliza pilocarpina — uma substância menos seletiva.
- Ação da aceclidina (VIS): atua apenas no músculo esfíncter da íris, reduzindo a pupila sem interferir na acomodação ocular.
- Ação da pilocarpina (Vuity): age tanto no esfíncter da íris quanto no músculo ciliar (responsável pela acomodação).
Essa diferença torna o VIS mais vantajoso, pois:
- Mantém a visão de longe nítida, enquanto o Vuity pode causar leve desfocagem em objetos distantes;
- Causa menos dores de cabeça, já que não interfere no músculo da acomodação;
- Reduz o risco de descolamento de retina, por exercer menor tração sobre o vítreo.
Conclusão
O colírio VIS representa um avanço promissor no tratamento da presbiopia, oferecendo uma alternativa não cirúrgica e de efeito rápido para quem deseja enxergar melhor de perto.
Embora ainda não disponível no Brasil, os resultados iniciais são animadores — e a seletividade da aceclidina sobre o esfíncter da íris torna o VIS uma opção mais segura e confortável do que os colírios de gerações anteriores, como o Vuity.