Nos últimos anos, o avanço da tecnologia tem aproximado cada vez mais a ficção científica da realidade médica. E uma das inovações mais fascinantes que começam a surgir nos laboratórios é a possibilidade de criar lentes de contato capazes de enxergar o infravermelho — a mesma tecnologia usada em óculos de visão noturna por forças militares.
Mas será que isso realmente será possível para o uso civil?
O que é luz infravermelha e por que não conseguimos vê-la
O olho humano é capaz de perceber apenas um espectro limitado de luz — entre 380 e 700 nanômetros.
- Abaixo de 380 nm está a luz ultravioleta, invisível aos olhos, mas sentida na pele (responsável pelo envelhecimento e queimaduras solares).
- Acima de 700 nm está o infravermelho, que também não é visível, mas sentimos como calor.
Atualmente, para enxergar luz infravermelha, dependemos de câmeras e sensores especiais, como os usados em equipamentos militares, drones e até óculos inteligentes.
A tecnologia das “lentes infravermelhas”
Pesquisadores têm estudado uma tecnologia conhecida como Up Conversion Nanoparticles (UCNPs) — partículas de terras raras que, quando estimuladas pela luz infravermelha, são capazes de converter essa radiação em luz visível.
Esses metais, ao serem incorporados ao polímero das lentes de contato, transformariam o olho humano em um detector natural de infravermelho.
Porém, há um desafio: se a quantidade de metais for muito alta, pode haver uma excitação excessiva dos íons, o que altera o grau óptico da lente e deixa a visão borrada.
Dos laboratórios aos primeiros testes
Os primeiros experimentos foram realizados em modelos animais, especialmente em ratos. Neles, as lentes com metais de terras raras foram suturadas e avaliadas através de estímulos elétricos na retina. Os resultados foram surpreendentes:
- Os ratos conseguiam perceber luz infravermelha.
- Não houve danos significativos aos tecidos oculares, demonstrando segurança do material.
Com isso, iniciaram-se estudos em olhos humanos, e os resultados foram ainda mais impressionantes.
O que os humanos com lentes de infravermelho conseguiram enxergar
Nos experimentos clínicos, os participantes com essas lentes foram expostos a mensagens em código Morse emitidas por luz infravermelha — e conseguiram lê-las perfeitamente.
Além disso, eles apresentaram uma capacidade inédita de:
- Localizar a origem exata da luz infravermelha;
- Perceber tons de azul, vermelho e verde imperceptíveis a olhos comuns;
- Detectar luz infravermelha mesmo de olhos fechados — com desempenho ainda melhor do que com os olhos abertos.
Essa última descoberta foi especialmente curiosa: quando o olho está aberto, o cérebro recebe estímulos da luz visível (380–700 nm) junto com o infravermelho, o que “confunde” o processamento visual.
Aplicações práticas da tecnologia
O potencial dessa inovação é imenso. Entre as possíveis aplicações estão:
- Pilotos de aeronaves e caças, que poderiam enxergar mesmo sob chuva intensa ou neblina;
- Bombeiros e equipes de resgate, atuando com maior precisão em locais com fumaça;
- Policiais e seguranças, que necessitam de visão noturna aprimorada;
- Trabalhadores em ambientes de baixa visibilidade, como portos e plataformas;
- E, no futuro, integração com realidade aumentada e virtual, fundindo o mundo digital e o real diretamente através da visão humana.
Um passo além da imaginação
Por mais que pareça algo saído de um episódio de Black Mirror, a ciência já está trilhando o caminho para tornar esse “superpoder” acessível.
Ainda estamos nos estágios iniciais de pesquisa, mas o conceito de lentes de contato com visão infravermelha está mais próximo da realidade do que da ficção.