Se você está prestes a fazer a cirurgia de pterígio — popularmente conhecida como “carne no olho” — ou já passou por esse procedimento, é natural surgir a dúvida: a carne pode voltar a crescer?
Neste artigo, o Dr. Délio Evangelista explica, com base em estudos científicos atualizados, quais são os fatores de risco para o reaparecimento do pterígio e o que você pode fazer para reduzir as chances de recidiva.
O que é o pterígio?
O pterígio é um crescimento anormal de tecido fibrovascular sobre a parte branca do olho (conjuntiva), que pode invadir a córnea e prejudicar a visão.
Geralmente, está relacionado à exposição prolongada ao sol e fatores inflamatórios crônicos.
A cirurgia é o tratamento mais eficaz, mas em alguns casos o tecido pode voltar a crescer — o que chamamos de recorrência.
Quando o pterígio tende a voltar?
Nem todos os pacientes têm o mesmo risco de recidiva.
Diversos fatores influenciam nessa possibilidade, e é importante conhecê-los para agir na prevenção.
1. Idade do paciente
Estudos mostram que quanto mais jovem o paciente, maior o risco de o pterígio voltar.
Isso acontece porque as células mais jovens possuem maior capacidade de proliferação e regeneração.
De forma geral, pacientes abaixo dos 40 anos têm uma probabilidade mais alta de recorrência em comparação aos mais velhos.
2. Tamanho e espessura do pterígio
A aparência do pterígio também importa:
- Quando a “carne” é espessa e avermelhada, como um tecido mais “carnudo”, o risco de retorno é maior;
- Já pterígios finos e discretos têm uma chance muito menor de reaparecer após a cirurgia.
3. Exposição solar
A radiação ultravioleta (UV) é um dos principais gatilhos tanto para o aparecimento quanto para o retorno do pterígio.
Por isso, pacientes que vivem em regiões muito ensolaradas, como o Nordeste e o Norte do Brasil, têm maior propensão à recidiva.
O sol pode causar inflamação na região operada e estimular um processo chamado metaplasia, em que o tecido ocular sofre uma transformação e cresce novamente.
4. Alimentação e hábitos no pós-operatório
Os primeiros 30 dias após a cirurgia são decisivos para uma boa recuperação.
Nesse período, é importante evitar alimentos e substâncias que aumentam a inflamação, como:
- Carne de porco
- Pimenta
- Mariscos
- Álcool
- Cigarro
Esses fatores podem aumentar a inflamação local e estimular o crescimento das células do pterígio.
5. Técnica cirúrgica utilizada
Este é um dos pontos mais importantes.
As técnicas mais antigas de remoção do pterígio apresentavam taxas de recidiva acima de 50%.
Hoje, a técnica considerada “padrão ouro” é a remoção do pterígio com transplante de conjuntiva, associada ao uso de cola biológica.
Com essa abordagem, o risco de a carne voltar cai para menos de 5% — um resultado excelente em comparação aos métodos antigos.
6. Uso de óculos de sol após a cirurgia
Após a operação, proteger os olhos da luz solar é fundamental.
Use sempre óculos com proteção UV, de boa procedência — nada de modelos sem certificação.
O ideal é usá-los diariamente, inclusive em dias nublados, para evitar inflamação e reduzir drasticamente o risco de recidiva.
Resumo: quando o pterígio pode voltar?
Para facilitar, pense em uma escala de risco.
Atribua 1 ponto para a técnica cirúrgica (se for antiga, risco alto) e 2 pontos para os demais fatores:
- Idade abaixo de 40 anos
- Pterígio espesso e avermelhado
- Alta exposição solar
- Dieta inadequada no pós-operatório
- Consumo de álcool ou cigarro
Se a soma ultrapassar 3 pontos, a probabilidade de o pterígio voltar é considerável.
Mas se você tem mais de 40 anos, fez a técnica moderna com transplante de conjuntiva e cola biológica, mora em região de menor insolação e segue corretamente as recomendações médicas, pode ficar tranquilo — o pterígio não deve voltar.
Conclusão
A cirurgia de pterígio evoluiu muito nos últimos anos.
Com o uso das técnicas modernas e cuidados adequados, a taxa de sucesso é altíssima.
A melhor forma de garantir resultados duradouros é seguir corretamente o pós-operatório, proteger os olhos da luz solar e manter hábitos saudáveis.
👁️ Cuide bem da sua visão — e lembre-se: prevenção e acompanhamento com o oftalmologista são as chaves para evitar que o problema retorne.